Dois meses em Turku

Por Aruã Lima

Quando fui empossado como Professor de História da Universidade Federal de Alagoas não poderia imaginar que isto me levaria à Finlândia.

Explico-me. Durante a cerimônia de posse (quando se torna servidor público há uma cerimônia de posse) a então Reitora da UFAL incentivava os recém-ingressos a se engajarem na internacionalização da UFAL. Estava em vigência o acordo entre a UFAL e as Universidades filiadas ao “Grupo Coimbra”. Este grupo é um consórcio de Universidades Europeias que possuem diversos tipos de parcerias com outras instituições de ensino e pesquisa de todo o globo.

Dentre os possíveis países estavam Alemanha, Bélgica, Suécia, Holanda, Espanha, Portugal, Polônia, Itália e...Finlândia. Para minha surpresa, encontrei na Finlândia um complemento perfeito para o projeto de pesquisa que desenvolvo no Brasil. Em Abo. Em Turku. Assim, enviei e-mails, recebi respostas e comecei a organizar a ida. Entre idas e vindas, um ano depois embarcaria para a Finlândia.

Fã de Saku Koivu finalmente conhece o país do seu ídolo

Havia um certo nervosismo no ar. Eu havia lido, no final da minha adolescência, um livro chamado “Rumo a Estação Finlândia” que trata de uma história muito interessante e, de uma maneira significativa, inclui este pequenino país num dos mais importantes eventos da história do século XX.

Além disso, um dos ídolos que tive enquanto adolescente era justamente um finlandês que não se cansava de dar voltas por cima: Saku Koivu. Ele era um dos dois mais importantes jogadores do “Montreal Canadiens”, time de hóquei de gelo da cidade canadense onde morei por dois anos. Assim, havia algo de Finlândia em minha vida.

Turku - uma cidade universitária

Ao chegar na Finlândia, passei uma noite em Helsinque e no dia seguinte peguei o trem rumo a Turku, onde me apresentaria à Abo Akademi. Turku é uma cidade onde se falam tanto o finlandês como o sueco e por isso também é chamada de Abo. Logo o estrangeiro se acostuma a ver Helsinque ser chamada, pelos finlandeses-suecos, de Helsinfors.

A universidade para onde fui, Abo Akademi, é a única universidade de língua sueca fora da Suécia. Para mim, isto fez pouca diferença uma vez que estabeleci laços tanto com a Universidade de Turku como Abo, já que elas estão distantes pouco mais de 100 metros uma da outra e o idioma universal é o inglês.

Não é um problema afirmar que, dentre tantas outras coisas, Turku é uma cidade universitária. Também por isso falar em inglês na rua não é um problema. Os finlandeses dominam o idioma à perfeição.

Muitas supresas: cerimônia de ascensão

Para minha surpresa (mais uma vez), eu chegava no meio de uma celebração: o professor com quem eu trabalharia chegara ao último nível de ascensão na carreira docente. Ele, enfim, adquirira o direito de ser chamado de Professor.

Foi uma experiência muito marcante ver antigos professores, colegas e estudantes o homenageando. Logo nos primeiros dias o gelo que cerca os finlandeses se desfez. Ainda nesta celebração, brindamos infinitas vezes ao som de um sonoro “skol” (algo como “cheers!” em sueco).

Pequena cidade mas com muitas opções

Era o mês de março quando cheguei. O inverno começava a ceder. Durante o mês de abril o rio que atravessa Turku, Aura, já estava descongelado. Nos finais de semana visitei diversas cidades finlandesas dada às facilidades de uma excelente malha ferroviária.

Turku é uma cidade de tamanho médio para padrões europeus. No entanto, para ter à disposição a mesma quantidade e qualidade de serviços em uma cidade brasileira, é preciso que esta seja pelo menos uma metrópole. Digo isto porque o leque de opções gastronômicas, culturais e esportivas que Abo propicia é imensamente amplo. Assim, enquanto esperei longamente (e em vão) para ver a primavera, me deleitava com as benesses de Turku.

Viagens para países vizinhos

Dada à proximidade e a necessidade de trabalho, visitei a Rússia duas vezes. Uma a trabalho, outra a passeio. Fui a Copenhagen também. Assim, pude ter uma noção mais precisa em que os finlandeses são especiais. Tanto me foi positivo para entender os finlandeses como para compreender o quão estratégica é a posição geográfica da Finlândia.

É possível realizar passeios de ferry no Báltico, conhecer Tallinn, na Estônia, ou ir a São Petersburgo ou ainda, um roteiro mais comum, ir a Estocolmo. Além das sempre possíveis viagens aéreas, é óbvio.

Muitas atrações

Para os estudantes, eu diria que uma das melhores parte de Turku é a variedade de cervejas lager que se encontra a cada esquina da cidade. Mas, não só. Longe disso. A biblioteca pública da cidade é um verdadeiro santuário da concentração dado o respeito à leitura.

A cada esquina, o sujeito pode se deparar com uma construção antiquíssima e charmosa. Não é incomum que se misturem ambos: uma lager em um prédio antigo. No entanto, a experiência sempre marcante era chegar, do centro da cidade ao apartamento onde fiquei hospedado, e me deparar com a magnificência da catedral de Turku. Era sempre uma experiência diferente que sentia a cada dia que via a bela catedral.

Na Finlândia encontrei finlandeses de toda natureza. Tal qual no Brasil. Tal qual no Canadá ou Estados Unidos. As pessoas são o que são. Frias? Às vezes! Mas quem não o é? O fato é que o tratamento a mim dirigido pelos finlandeses foi prático, cuidadoso, afetuoso e educado.

Duas reações são possíveis quando se diz que vai a Finlândia. É frio e longe. De fato é frio. Mas o frio é bom. Mas não me parece longe. São duas horas de vôo de Amsterdam. Ora, quem voou 12 horas, voa mais duas. Além disso, a frieza da natureza é compensada por inacreditáveis paisagens, uma organização social ímpar e, se o visitante tiver sorte, uma solidariedade de dar inveja aos habitantes dos trópicos.